Por que meu filho tem deficiência?
Por que meu filho tem deficiência?
Uma das maiores armadilhas da vida é enxergarmos nossos filhos como uma continuidade de nós.
Se ganham um grande prêmio, temos orgulho imenso como se fossemos nós mesmos que tivéssemos ganhado.
Se cometem erros, nos envergonhamos como se fossemos nós mesmos que tivéssemos errado.
Aliás, quando algo ruim acontece, instintivamente e ainda que secretamente, pensamos: “Onde foi que eu errei?”
Como se absolutamente tudo o que se refere à vida dos nossos filhos, fosse de nossa absoluta responsabilidade. Como se não tivessem livre arbítrio, como se não fossem únicos, com suas histórias únicas.
Nosso desejo de controle absoluto sobre a vida deles, principalmente nas mais tenras idades, talvez seja apenas uma tentativa de protegê-los do mundo ou ainda, uma tentativa de proteger a nós mesmos da dor de constatar que somos falhos.
Há um desejo constante de busca pela perfeição, mesmo que muitos não admitam ou não tenham consciência, se assim não fosse, não usaríamos espelhos.
Como assim meu filho tem uma deficiência? O que eu fiz de errado ou o que eu não fiz e deveria ter feito?
Se a culpa já é acessório adjacente a qualquer maternidade, imaginem na maternidade atípica, onde tudo é ainda mais inesperado…
Quando atuava como fonoaudióloga no Hospital SOBRAPAR em Campinas, (Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação Craniofacial) era minha rotina receber mães de recém-nascidos com deformidades craniofaciais nos seus primeiros dias ou horas de vida para orientar sobre amamentação.
Conhecendo de perto a vivência delas, (ainda que eu não fosse mãe, na época), eu fazia questão de dizer: “Lembre-se não é culpa sua.”, imediatamente uma lágrima escorria pela face da mãe.
Mesmo sem que algumas dissessem nenhuma palavra a respeito, eu sabia que esse pensamento era recorrente em todas as mães que chegavam ali. E é, sem dúvida nenhuma, um pensamento que vai visitar os pais de crianças com deficiência em algum momento na vida.
Eu também não escapei dele… mesmo tendo toda a consciência e o embasamento cientifico para não cair nessa armadilha. Confesso que esse pensamento me visitou várias vezes…
O que nós pais precisamos nos lembrar sempre, é que, por mais que sejam nossos filhos, eles têm, cada um, a sua própria história.
Embora eu tenha as minhas crenças, não quero entrar aqui, nessa questão principalmente no que se refere a esfera espiritual de cada um.
Mas quero convidar cada pai e mãe a olhar para história do seu filho como sendo uma história individual em primeiro lugar. Uma história deles, nem tudo é sobre nós…
Acredito que aqui nesse mundo algumas perguntas jamais serão respondidas com absoluto respaldo, e essa é uma delas: “Por que meu filho tem deficiência?”
E enquanto ficarmos presos a essa pergunta, continuaremos a olhar para traz.
O “por que” sempre nos fará olhar para traz. E não adianta olhar para traz, não é lá que estamos.
Talvez a solução seja mudar a pergunta. Ao invés de pensar no “por que”, que tal mudar para “pra quê”?
Quando pensamos no “pra quê” começamos a buscar a resposta no futuro e isso nos move, nos estimula a olhar e viver o novo.
Mude a pergunta e foque no que está por vir na sua vida e de espaço para que seu filho viva a vida dele, no ritmo dele, construindo sua própria história de lutas e glórias.
Lembre-se você tem uma vida, independente da condição do seu filho. Ame sua vida, cuide dela, viva-a plenamente.
Excelente texto. Inclusive podemos pensar nos “para ques” no nosso dia a dia, nos nossos erros, nos nossos acertos.
Parabéns